domingo, 27 de julho de 2008

O que a vida não vê

Eram tantos santos nas esquinas
que a gente se acostuma e finge ser normal
ver a vida contra o tempo, ver o rosto no espelho,
novas marcas, outras rugas, outras roupas no varal

Eram tantos sonhos contra o vento
que no meio das verdades a ilusão é natural
Ter no peito o cais distante para que a qualquer instante
o horizonte nos recorde que viver ainda é real

Era tão difícil ver sentido
num teatro conduzido por um Deus sem ideal
que no limiar das esperanças construímos nas lembranças
novas pontes, outros vícios, para desfazer o mal

Era outra história mal contada,
uma farsa recriada de um outro carnaval
Para ver nas mãos uma promessa de criar na luz do acaso
toda a mágica rasgada pela força racional

Eram tantos anjos nas vitrines
que a fé virava luxo na descrença da nação
Tantos mercadores da poesia a trocar a fantasia
pelo último suspiro, pela vida e pelo pão

E eram tantos outros meros fatos
que nem cabem nos retratos estampados no jornal
E os ensaios do destino e os pedaços do passado
pouco a pouco se desdobram muito antes do final

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