Dos tempos das coisas
Saudade é evitar o último abraço sobre o chão do porto. É evitar os olhos ali na foto sobre a mesa por já não poder ter o olhar. É deitar calado enquanto grita o peito...e acordar vazio enquanto a alma transborda o que restou.
Saudade é uma caixa aberta na memória, cujas chaves o tempo atirou ao mar.
É a sombra deixada nos caminhos que não se trilham mais de uma vez...
Saudade é aquele girassol que persegue a luz sabendo-se conformado à sua inércia de girar sobre seu próprio mundo e apenas isso... e não poder alcançar o sol.
É querer dizer tanto que o silêncio se torna a única coisa que nos resta para traduzir o coração.
Saudade é tanto, é tanto...mas é tanto que os homens tolos, dizendo-se e querendo-se sábios, não conseguem encontrar a tradução, infelizes algozes de um sentimento sem nome...
É metade de tudo que já escrevi um dia e foi deixado na velha gaveta dos medos daquilo que o mundo não entenderia...
Porque é só o que resta quando o tempo nos leva até as tantas fantasias de outrora.
Porque é só o que grita no corredor silencioso que destrói a razão. E não se cala fácil e não se quer perder.
Porque saudade é querer ser o cais e o mar ao mesmo tempo, para não se deixar vivê-la...
quinta-feira, 31 de julho de 2008
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11 comentários:
e o que eu grito no corredor silencioso é: mãe. só mãe!
velho!! tenho o maior orgulho de tu, cabra!!
abraço irmao
Lindo Texto, Sávio!
Parabéns!!!!!!!!
SOMOS MESMO ESPECIALISTAS EM "SAUDADE"!
ENTRE ALFAZEMAS E ALECRINS
[Para Sávio, meu filho “peregrinus”]
Para ti, dessas águas lusitanas,
Segue, pelo mar, uma garrafa
cheia de luzes encantadas,
que roubei dos pirilampos,
para que ilumines as tuas noites.
Mando- te preciosos raios de sol,
para que fulgures os teus dias.
Também vão cantos de rouxinóis,
para encheres de gorjeios os teus tempos.
E, na lonjura, ao lembrares de mim,
sintas que a poesia continua viva,
como o sol ardendo em flamas.
Vasta com um rio. Infinita como o mar.
Como minhas asas já não voam,
piso suavemente na terra alheia,
para não ferir os brotos de alecrins,
nem os campos lilases de alfazemas.
Ainda, para não esqueceres de mim,
fiz das ramas do trigal um novo ninho.
E de algas anda farta a nossa mesa.
Anda, vem ligeiro ouvir um fado,
que as guitarras não param de tocar,
que as velas já estão acesas,
que os incensos perfumam toda a casa.
Sobe nas asas de um falco-peregrinus,
aproveite o vento que por aí passa,
e voe... voe nos céus, vem além-mar.
Enquanto a terra ainda gira,
enquanto o tempo não pára,
enquanto o sangue corre-me nas veias.
Porta aberta, abrigo de saudades,
meu ardente coração clama por ti.
E a poesia está cansada de esperar.
Katia Drummond
Em outono português.
Grande Sávio.
Seu texto me remete ao sentimento que mais foi presente nos meus anos de exílio.
Parabéns.
Diego Patury.
Lindo, uma mãe atenta e orgulhosa é a sua - com razão! Parabéns.
Venha mostrar um pouco do seu talento e criação na Quinta da Audição... quem sabe ainda compomos algo juntos?
cara, tão lindo que me faz sentir saudades... saudades do que não vi, saudades do que não escrevi, e, por que não? saudades de ti meu amigo/ irmão que com tanta lindeza transborda meu coração de saudadosa felicidade. Abraços Sávio
Zé Luiz
Sassau, filho "peregrinus".
Leio e releio os textos. Emocionantes!
O texto "Do Tempo dos Sonhos", de tão absurdamente lindo, tão belamente poético, constará da abertura do "Fado Brasileiro"/Poemas. Posso, delicadamente, roubá-lo?
E(ternos) beijos de amor. A mãe-poeta-peregrina.
A pousar bem aqui... agora, na sua alma-límpida-cristalina.
Piuuuuuuuuu...
Muito lindo, vc como sempre multi. Bom ler suas produções.
Sarah
Sau.......................que coisa linda!!!!! "Saudade é uma caixa aberta na memória, cujas chaves o tempo atirou ao mar", que lindooooooooooo!
Adoro o que você escreve e suas músicas também....nem sabia que você tinha músicas compostas....foi uma surpresa!
Beijos,
Tate
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